O Frutívoro da feira: A busca semanal pelos sabores tropicais

Por Márcio Rachkorsky, para Condomínios e outras paixões

 

Em meio à selva de pedra paulistana, onde o cinza do concreto muitas vezes ofusca as cores da natureza, existe um ritual sagrado para muitos homens: a ida à feira livre. É lá, entre o barulho dos feirantes e o aroma das frutas frescas, que se revela uma paixão surpreendente, um contraponto adocicado ao paladar carnívoro que descrevemos anteriormente. É a história do frutívoro da feira, o homem que se declara “alucinado por comer fruta”.

 

“Pode falar que eu como muita fruta, que vamos comer fruta. Vou na feira toda semana”, conta nosso entrevistado, com um entusiasmo contagiante. Essa devoção semanal não é apenas um hábito, mas uma celebração da riqueza natural do Brasil. Em um país que é um dos maiores produtores de frutas do mundo, a feira livre é o palco onde essa diversidade se apresenta em sua forma mais vibrante e saborosa. É um patrimônio cultural que, em São Paulo, já soma mais de 111 anos de história, com cerca de 471 feiras espalhadas pela cidade.

 

As preferências do nosso frutívoro são um verdadeiro mapa do tesouro tropical. Ele não se contenta com o básico; ele busca a excelência, o ponto exato de maturação que revela o máximo de sabor. “Hoje em dia, minhas preferidas: abacaxi bem maduro, mexerica, jaca, jabuticaba.” Cada escolha é uma ode a um sabor específico, a uma textura única.

 

O abacaxi, com sua coroa imponente, é a estrela tropical por excelência. Rico em vitamina C e bromelina, uma enzima que auxilia na digestão, ele é a prova de que o doce e o saudável podem andar de mãos dadas. A busca pelo “abacaxi bem maduro” é a busca pela doçura perfeita, sem a acidez que pode incomodar os paladares mais sensíveis.

 

A mexerica, com seu perfume inconfundível que impregna as mãos, é a praticidade em forma de fruta. Fácil de descascar, é o lanche perfeito para qualquer hora do dia. Seus gomos suculentos são uma explosão de vitamina C, um reforço natural para o sistema imunológico.

 

A jaca, com seu tamanho monumental e aparência exótica, pode intimidar os menos aventureiros. Mas para o nosso frutívoro, ela é uma iguaria. Sua polpa macia e adocicada é uma fonte de fibras, potássio e vitamina A. É uma fruta que exige paciência para ser degustada, mas que recompensa com um sabor único e inesquecível.

 

E a jabuticaba, a pérola negra que brota diretamente do tronco da árvore, é talvez a mais brasileira de todas as frutas. Genuinamente nacional, ela é um tesouro nutricional, rica em antioxidantes como a antocianina, que combate os radicais livres e protege o corpo do envelhecimento precoce. Colher jabuticaba no pé é uma memória afetiva para muitos brasileiros, um símbolo da infância no interior.

 

Essa paixão pelas frutas revela uma faceta interessante da masculinidade contemporânea. O mesmo homem que se delicia com uma costela de boi suculenta é capaz de se encantar com a doçura de uma jabuticaba. É a prova de que o paladar masculino é muito mais complexo e diversificado do que os estereótipos sugerem. É a busca pelo equilíbrio, pela harmonia entre o salgado e o doce, entre a força e a delicadeza.

 

A feira livre, nesse contexto, transcende sua função comercial. Ela se torna um espaço de conexão com a terra, de valorização do produtor local, de educação do paladar. É um convite para explorar novos sabores, para redescobrir o prazer simples de uma fruta fresca, colhida no tempo certo. É um lembrete de que, mesmo na maior metrópole do país, a natureza ainda encontra uma forma de nos surpreender e nos nutrir.

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