São Paulo do coração
Por Márcio Rachkorsky, para Condomínios e outras paixões
São Paulo é uma cidade de superlativos. A maior metrópole do hemisfério sul, um caldeirão de culturas, um centro financeiro pulsante. Mas para além dos clichês, existe uma São Paulo íntima, pessoal, um mapa afetivo que cada um de seus habitantes constrói ao longo da vida. É essa cidade, feita de esquinas, bares, parques e memórias, que nosso entrevistado nos revela, um roteiro que foge do óbvio e mergulha na alma paulistana.
O ponto de partida, o epicentro desse mapa, é o Centro Velho. “O lugar que eu mais gosto de São Paulo é o centro velho, com todas as suas maravilhas e com seus problemas”, confessa. É uma declaração de amor que abraça a complexidade, que enxerga beleza no caos. O Centro é o berço da cidade, onde o passado e o presente se encontram em uma arquitetura que conta histórias. É o lar da imponente Catedral da Sé, do majestoso Teatro Municipal e da histórica Estação da Luz. É também o lugar do Café Floresta, no icônico Edifício Copan, um convite para uma pausa, um café e um olhar atento sobre a vida que pulsa ao redor.
Mas a São Paulo do nosso personagem não é feita apenas de contemplação. Ela é vivida com o corpo, com o suor, com o movimento. O Parque Ibirapuera surge como o templo da atividade física, o lugar para “fazer ginástica, para essa rústica, para caminhar”. O Minhocão, elevado que corta a cidade, transforma-se em passarela para caminhadas e corridas, um espaço de respiro em meio ao concreto. E para a noite, a trilha sonora é o rock’n’roll do PPP, um bar na Praça Roosevelt que se tornou um refúgio para os amantes do gênero.
Quando a sede aperta, o destino é certo: o Bar do Luís, um clássico do centro que, segundo ele, serve “a melhor caipirinha do mundo”. É a tradição em forma de coquetel, a celebração da cachaça, do limão e do açúcar em sua mais perfeita harmonia. Para os dias de feijoada, o endereço é o Maralvo, um bar na Vila Clélia que guarda memórias de uma vida inteira. “Vou desde moleque”, conta, revelando a conexão afetiva que transforma um simples estabelecimento em um lugar sagrado.
Nosso guia também é um apreciador de ambientes, de atmosferas. Ele busca lugares que contam uma história, que oferecem mais do que apenas um bom prato ou uma boa bebida. O Bar do Terraço Itália, com sua vista deslumbrante, é um desses lugares. “Não só pela vista, mas pela ambientação antiga, com carpete, madeira.” É a recusa aos ambientes impessoais, à luz clara, à música ruim. “Não consigo ir em bar com luz clara, não consigo ir em bar com música ruim, não consigo ir em bar muito barulhento. Gosto de um lugar mais com ambiente, mais gente bonita, mas principalmente com madeira, luz baixa e música boa.”
Essa busca pelo autêntico se estende aos restaurantes. O Le Casserole, um clássico da culinária francesa no Largo do Arouche, é um de seus preferidos. É a valorização da tradição, da cozinha que atravessa gerações sem perder a majestade. É a São Paulo que resiste ao tempo, que preserva seus tesouros, que oferece refúgios de bom gosto e boa conversa.
O mapa afetivo do nosso entrevistado é um convite para redescobrir São Paulo. Para olhar além do trânsito, da poluição, da pressa. Para encontrar beleza na arquitetura antiga, para saborear uma caipirinha em um balcão de madeira, para se perder nas alamedas do Ibirapuera. É um lembrete de que a cidade, por mais imensa que seja, pode ser um lugar de afeto, de pertencimento, de encontros. Basta saber onde procurar.